Os filmes “baseados em histórias reais” frequentemente buscam capturar eventos históricos com uma abordagem dramática e cativante, mas é comum que essas produções tomem algumas liberdades criativas para atender a exigências cinematográficas e limitações de tempo. “Oppenheimer”, o novo épico dirigido por Christopher Nolan, que retrata a vida do cientista J. Robert Oppenheimer (interpretado por Cillian Murphy) e sua contribuição para a criação da bomba atômica, não é exceção a essa prática. Embora tenha sido bem recebido pelo público, é importante reconhecer as principais distorções e omissões em relação à história real. Vamos explorar as cinco maiores mentiras presentes no filme:
1. Omissão da Comunidade Hispano-Americana em Los Alamos: No filme, Oppenheimer tenta convencer os líderes do exército americano a escolher Los Alamos como local para o laboratório secreto e menciona que a região tem apenas “uma escola para meninos e o fato de que nativo-americanos vêm aqui para enterrar seus mortos”. Essa afirmação é imprecisa, pois Los Alamos já abrigava uma considerável comunidade de imigrantes hispânicos que foram deslocados para a construção do Projeto Manhattan. Essas famílias sofreram com complicações causadas pela radiação durante gerações e ainda hoje enfrentam a falta de reconhecimento e apoio oficial do governo dos EUA.
2. Representação Inexata de David Hill na Audiência de Confirmação: No filme, o Dr. David Hill (interpretado por Rami Malek) é apresentado como o representante da comunidade científica durante a audiência de confirmação de Lewis Strauss (interpretado por Robert Downey Jr.). Embora Hill tenha comparecido, outro cientista, David Inglis, testemunhou sobre a vingança pessoal de Strauss contra Oppenheimer. Além disso, a inimizade entre Strauss e o senador Clinton Anderson também foi fundamental para que Oppenheimer não assumisse um cargo no governo.
3. A Culpa Atribuída ao Dr. Fuchs como Único Espião: No filme, o cientista interpretado por Christopher Denham é culpado por vazar segredos estadunidenses para os soviéticos. Entretanto, a realidade é mais complexa, pois vários cientistas, incluindo Ted Hall, David Greenglass e Oscar Seborer, passaram detalhes dos testes de laboratório para a União Soviética. Todos eles se preocupavam com o monopólio norte-americano sobre armas nucleares.
4. O Incidente do Envenenamento de Patrick Blackett: O filme retrata Oppenheimer injetando cianeto em uma maçã destinada a Blackett, mas a maioria dos historiadores acredita que ele usou um “veneno” mais leve que causaria apenas mal-estar. Além disso, Oppenheimer não foi expulso de Cambridge quando o incidente foi descoberto.
5. Os Encontros Fictícios Entre Oppenheimer e Albert Einstein: Embora Oppenheimer e Einstein se conhecessem, o filme exagera suas interações e a consulta de Oppenheimer sobre os cálculos de Robert Teller para a bomba atômica. Na realidade, Oppenheimer consultou Arthur Compton, que verificou os cálculos ao lado de Hans Bethe e concluiu que a chance de uma reação em cadeia catastrófica era “próxima de zero”.
“Oppenheimer”, apesar de suas distorções, é uma obra cinematográfica impressionante que busca trazer à vida eventos históricos importantes. Entretanto, é fundamental que o público compreenda que filmes desse gênero devem ser apreciados como narrativas cativantes e não como uma fonte precisa de informações históricas. Ao explorar a história de J. Robert Oppenheimer e o Projeto Manhattan, é recomendado buscar fontes adicionais para obter uma compreensão mais completa dos eventos e personalidades envolvidas nesse momento crucial da história mundial. A fusão da realidade e da ficção é uma prática comum no cinema, mas é essencial que nunca percamos de vista a verdadeira história por trás das narrativas criadas para o entretenimento.